Uma língua comum para a lusofonia
UMA LÍNGUA COMUM PARA A LUSOFONIA
Participei recentemente numa interessante troca de ideias entre portugueses e brasileiros no Facebook, a propósito de um post sobre a obra de Machado de Assis, na página da Revista Conexão Literatura, que é uma revista mensal digital editada no Brasil. Há 50 anos não era possível ter aquela conversa (bate-papo, como se diz no Brasil). É a maravilha das redes sociais!
O afastamento geográfico de 500 anos levou a termos quase duas línguas diferentes, porque a evolução da língua em Portugal foi diferente da evolução no Brasil. Temos agora a oportunidade de, pouco a pouco, voltarmos a ter uma língua realmente comum.
Refiro-me não só à ortografia, mas também à oralidade. E, quando digo oralidade, não me refiro só à dicção, mas também à forma de construir as frases, aos nomes diferentes que damos a animais, plantas, objetos, etc. Apresento o caso do meu neto que passa muito do seu tempo a ver e ouvir vídeos brasileiros no Youtube e apanhamo-lo muitas vezes a falar connosco "à brasileira". O mesmo acontece, certamente, com outros jovens em Portugal, no Brasil, em Angola, e noutros países lusófonos, que jogam e falam uns com os outros pela internet. Espero que, daqui a algumas dezenas de anos, estejam todos a falar e escrever igual, sem prejuízo de cada um continuar a ter o seu sotaque, embora mais ou menos influenciado pelos dos outros.
Esta é uma das razões que me levam a apoiar o acordo ortográfico. A aproximação das duas ortografias, até agora cada uma baseada na respetiva oralidade, é um primeiro passo para o desejado português comum em todo o espaço lusófono, que todos desejamos, mesmo os que vociferam contra o Acordo Ortográfico. Não quero um Português para 10 milhões, mas sim um Português para 250 a 300 milhões, que se orgulhem de ter como língua materna uma das línguas mais faladas no mundo. Até os galegos sonham vir a pertencer a esta vetusta comunidade.
E podem "bater-me" à vontade, que já tenho as costas calejadas. Para os reacionários (no sentido de 'os que reagem ao A.O.'), repito o que digo sempre: houve reformas e acordos ortográficos anteriores, ao longo dos séculos e todos tiveram violentos contestatários. Mas a verdade é que eles morreram e as reformas ficaram. O primeiro reformador foi El'Rei D. Dinis, fundador da primeira Universidade em Portugal e autor da legislação que declarou o Português como a língua oficial do Reino.
Oxalá daqui a 20 ou 30 anos a oralidade tenha evoluído a ponto de se poder melhorar o acordo ortográfico atual ou, quem sabe, fazer um novo sem duplas ortografias. Já não estarei cá, mas tenho essa esperança.
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