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Comentário ao livro “O JOGO DAS CONTAS DE VIDRO” de Hermann Hesse
Hermann Hesse nasceu numa família de luteranos Pietistas que estiveram em missão na Índia. O Pietismo, nome derivado da palavra latina “pietas” que significa piedade, advoga a ligação pessoal do crente com Deus, desvalorizando o papel da Igreja como instituição intermediária entre Deus e o seu povo. Se pensarmos bem, é uma religião que tem alguma semelhança com religiões contemplativas, como o induísmo, o budismo e outras religiões orientais, com o pensamento dos estoicos da antiga Grécia ou até com algumas personalidades carismáticas dentro do cristianismo.
Este facto teve muita influência na vida de Hermann Hesse, que foi uma personalidade inquieta e insatisfeita, sempre em busca de uma nova forma de realização pessoal. Abandonou a religião da sua família muito novo e procurou novas crenças e novas formas de espiritualidade. Esteve algum tempo na Índia, onde contactou com as religiões orientais. Não conseguiu chegar longe na escolaridade, não conseguia viver muito tempo nos mesmos locais ou nas mesmas profissões, nem fazer opções políticas duradouras ou manter as suas relações amorosas. Dentro de si, havia uma constante luta entre duas forças antagónicas que se digladiavam.
Esta dualidade que o devorava manifesta-se em toda a sua obra e, de modo muito especial, neste fabuloso livro “O Jogo das Contas de Vidro” que levou 12 anos a escrever. A tentativa de o publicar na Alemanha em plena Segunda Guerra Mundial levou o autor a ser colocado na lista negra do regime Nacional-Socialista.