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Os Meus Nobel

Aqui encontra informação sobre a vida e a obra de grandes escritores, galardoados com o Prémio Nobel de Literatura ou não, minhas recensões de livros, textos de minha autoria e notícias literárias

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Os Maias

Vibarao, 31.01.23

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Comentário ao livro “Os Maias” de Eça de Queirós

Geralmente considerado a obra-prima de Eça de Queirós, “Os Maias” é o romance que termina uma trilogia de obras a que o próprio autor chamou “Cenas da vida portuguesa”: começa com “O Crime do Padre Amaro” (cenas da vida devota), seguido de “O Primo Basílio” (Cenas da vida doméstica), para terminar com “Os Maias” (Cenas da vida romântica). O autor procura nesta coleção caracterizar a sociedade da época, seja através da depravação dos membros do clero em “O Crime do Padre Amaro”, seja através dos ociosos que se dedicam a seduzir as mulheres dos outros em “O Primo Basílio” ou do artificialismo e o fingimento que perpassava através da sociedade da capital em “Os Maias”.

Na verdade, “os Maias” é um retrato muito completo da sociedade lisboeta de finais do século XIX, uma sociedade decadente a nível político e cultural, onde pontua uma burguesia endinheirada e uma nobreza empobrecida. Eça de Queirós ridiculariza o parlamentarismo, representado pelo conde de Gouvarinho e por Sousa Neto; o meio cultural, satirizado no episódio hilariante, para não lhe chamar ridículo, do sarau no Teatro da Trindade; o jornalismo corrupto e venal, encarnado por Palma Cavalão que publica a “verdade” de quem paga mais; os filhos dos nobres criados na província que, chegados à grande cidade, são vítimas da educação beata e provinciana que tiveram, espelhados em Eusebiosinho; o romantismo literário, umas vezes oco, outras vaidoso e injustamente aplaudido, tipificado em Tomás de Alencar; João da Ega, o inseparável amigo de Carlos, é no romance o principal acusador dos males do país, mas ele próprio não está isento de passar por situações ridículas.

Muito sumariamente, o núcleo do romance conta a tórrida história do amor de Carlos da Maia por Maria Eduarda. Mas recua ao tempo do seu avô, Afonso da Maia, um velho nobre que reside num velho palácio em Lisboa. Passa depois por seu pai, Pedro da Maia, que casa contra a vontade de D. Afonso com Maria Monforte, filha de um traficante de escravos enriquecido no Brasil, e têm um casal de filhos. Mas Maria apaixona-se por um artista italiano e foge levando a filha consigo, o que leva Pedro a suicidar-se. O velho Afonso cria o neto, que manda para Coimbra formar-se em medicina. Regressado à capital, conhece Maria Eduarda, pela qual se apaixona e tornam-se amantes. Depois de muitas peripécias, cujo desenvolvimento terão oportunidade de conhecer lendo o romance, verificam que Maria Eduarda é a irmã desaparecida de Carlos Eduardo da Maia, sendo, portanto, irmãos. Imaginem o seu drama ao descobrirem que têm estado a viver um amor incestuoso. Forçados a separar-se, a sua vida segue rumos diferentes e veremos, no final, Carlos da Maia a reencontrar-se uma década depois com o seu velho amigo João da Ega, com quem recorda aquele passado que ambos viveram e uma cidade que continua igual e sem esperança de mudar para melhor.

Por entre estas personagens centrais, circula um vasto leque de personagens secundárias, algumas das quais já referi atrás, que dão forma à sociedade lisboeta que Eça de Queirós ridiculariza com muita ironia e bastante graça, tornando divertido um romance que tem tudo para ser uma história muito triste.

A escrita de Eça de Queirós é realista e denunciadora da corrupção do clero e dos valores burgueses da época, onde impera a hipocrisia, o que lhe valeu, aliás, graves conflitos, especialmente com os dignitários da Igreja. No entanto, procura em “Os Maias” suavizar um pouco a sátira contundente e a ironia caricatural da família e da sociedade burguesa, através de uma linha construtiva, com um objetivo claramente moralista, o que o torna um caso muito especial no conjunto das obras do escritor.

 

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