A trama desenrola-se em Cape Cod, uma pacata cidade costeira, cheia de turistas no verão, mas agora quase deserta, onde Nancy Harmon tenta reconstruir a sua vida após um passado trágico. Acusada da morte dos seus dois filhos, foi absolvida devido à ausência de provas, por ter desaparecido a principal testemunha de acusação. Também o marido foi considerado morto por suicídio. Decidida a recomeçar, casa-se com Ray Eldredge, um promotor imobiliário em Cape Cod, e agora, sete anos depois, é mãe de duas crianças, um rapaz e uma menina, como os anteriores. Contudo, a aparente tranquilidade é abalada quando, num dia fatídico, os novos filhos desaparecem misteriosamente do quintal da sua casa. Desencadeia-se uma onde solidariedade pela busca das crianças, mas logo de seguida aparece uma notícia no jornal local, que liga Nancy Eldredge a Nancy Harmon. Esta notícia confunde a população e reacende as dúvidas sobre o passado de Nancy, colocando-a mais uma vez no centro de uma investigação angustiante, onde só o marido parece acreditá-la inocente.

Mary Higgins Clark constrói personagens densas e complexas, em particular Nancy, cuja vulnerabilidade e força são exploradas de maneira sensível. Nancy é uma protagonista atormentada, moldada pela culpa, pelo medo e por uma esperança frágil de redenção. As figuras secundárias, incluindo o marido, os vizinhos e os agentes da autoridade, são igualmente bem desenhadas, contribuindo para a atmosfera de tensão e dúvida que permeia todo o romance.

O estilo de Mary Higgins Clark é marcado pelo ritmo rápido e pela linguagem acessível, tornando a leitura fluida e viciante. A autora utiliza capítulos curtos e momentos de suspense eficazes, que incentivam o leitor a não parar. Os diálogos são realistas e a descrição dos cenários cria uma atmosfera opressiva, onde a desconfiança e o perigo parecem espreitar a cada página.

O livro aborda temas universais como a maternidade, o sentimento de culpa, o julgamento social, quase sempre injusto e baseado em suposições, e a resiliência perante a adversidade. A forma como a autora explora as consequências do passado na vida presente, bem como o poder destrutivo dos rumores e das suspeitas, confere uma profundidade psicológica ao romance. O suspense é alimentado não só pela ação, mas sobretudo pela dúvida constante sobre a inocência de Nancy.

“Onde estão as crianças?” abriu o caminho a Mary Higgins Clark para uma carreira de sucesso e é uma referência do suspense a nível internacional. Foi aclamado pela crítica e pelo público, tornando-se um best-seller, como, aliás, a maioria das obras da autora. Foi adaptado ao cinema e continua a influenciar escritores do género, sendo considerado um clássico imprescindível para quem aprecia thrillers psicológicos.

"Onde estão as crianças?" é uma leitura que recomendo a quem procura um suspense bem construído, capaz de surpreender até o mais experiente dos leitores.