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Os Meus Nobel

Aqui encontra informação sobre a vida e a obra de grandes escritores, galardoados com o Prémio Nobel de Literatura ou não, minhas recensões de livros, textos de minha autoria e notícias literárias

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O Último Cabalista de Lisboa

Vibarao, 13.08.22

O último cabalista de Lisboa.jpg

Comentário ao livro “O ÚLTIMO CABALISTA DE LISBOA” de Richard Zimler

Consegui, finalmente, ler este livro que foi o primeiro romance de Richard Zimler. Publicado em 1996, lançou imediatamente o autor nas altas esferas da literatura portuguesa e internacional. Basta dizer-se que o volume que eu possuo, editado em 2006, era já a 13ª edição! "O Último Cabalista de Lisboa" foi o início do 'Ciclo Sefardita' que narra a saga da família Zarco e vai já no seu quinto livro. Cada novo romance é mais um bestseller.

Neste livro a história desta família de judeus sefarditas de origem portuguesa começa da maneira mais trágica: com o horroroso pogrom do domingo de Páscoa de 1506, no qual foram queimados na Praça do Rossio em Lisboa milhares de cristãos-novos, como eram chamados os judeus e os muçulmanos que, na sequência do édito real do rei D. Manuel I, foram forçados a se converterem ao cristianismo. O incidente deu-se por terem sido acusados pela população, instigada pelos padres dominicanos (que viriam depois a dominar a Santa Inquisição), de realizarem práticas da sua anterior religião, consideradas heréticas. Segundo os acusadores, seria esse facto que estava a causar a seca que já durava há quase três meses e da peste que começava a grassar na cidade, e era preciso fazer correr o sangue dos 'Marranos' pecadores, para acalmar a ira de Deus.

Durante os tumultos, Abraão Zarco, patriarca de uma família de cristãos-novos, residente em Alfama, iluminador de manuscritos e membro da célebre escola cabalística de Lisboa, aparece morto na sua sala secreta escavada sob o soalho da sua casa, ao lado de uma jovem rapariga, ambos nus e de gargantas cortadas, banhados em sangue e com a porta trancada por dentro. Seria suicídio? E quem era aquela jovem desconhecida? Entretanto, um manuscrito cujas personagens das iluminuras reproduziam rostos de amigos e vizinhos do falecido, desapareceu. O seu sobrinho e discípulo Berequias Zarco não se conforma com a situação e vai investigar meticulosamente o que teria acontecido ao seu tio e mestre, ajudado pelo seu amigo e vizinho muçulmano Farid. No meio das maiores dificuldades e perigos, vão conseguir deslindar o caso, antes de deixarem o País e partirem para Istambul, onde a família se vai fixar.

É ali que Richard Zimler vai encontrar em 1990 um conjunto de manuscritos escondidos num buraco disfarçado numa parede, entre os quais se encontravam aqueles que Berequias Zarco escreveu para perpetuar os acontecimentos daquela Páscoa que marcou o início da perseguição aos judeus movida pela Inquisição e que duraria vários séculos. Este livro é a reprodução desses manuscritos, evidentemente ficcionados pelo autor.

Não admira que "O Último Cabalista de Lisboa" tenha tido um sucesso imediato, porque tem tudo para captar a atenção dos leitores. Para além de contar uma História que marcou a nossa sociedade e ainda hoje nos envergonha a todos, está escrito num ritmo vertiginoso, em capítulos relativamente curtos, cobrindo o período de uma semana, tantos dias quantos duravam as festas da Páscoa. A maioria dos locais onde decorre a ação existem ainda hoje em Lisboa, embora muitos estejam bastante modificados, nomeadamente na zona de Benfica, que era, na altura, uma sequência de quintas fora da cidade, na rota para Sintra. As personagens têm vida e são caracterizadas com tal pormenor que ficam fotografadas na mente do leitor. Como em todos os livros de Richard Zimler, subjaz à narração dos factos históricos uma trama de cariz policial, colocando o leitor no papel de 'adjunto' do protagonista, qual Watson perante Sherlock Holmes.

Depois deste livro, só me fica a faltar ler "Goa ou o Guardião da Aurora" para conhecer o conjunto de obras a que o autor chama o "Ciclo Sefardita". Está na minha estante e não vou conseguir esperar muito para me entregar à sua leitura.

Publicado no Segredo dos Livros em 7 de abril de 2019

 

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