A Igreja Católica continua a ser uma fonte de inspiração para os autores de obras de ficção que misturam factos históricos com teorias da conspiração. A sua história de dois mil anos, o poder espiritual e temporal que tem desempenhado ao longo destes milénios, o facto de ser a religião com mais crentes, aliados aos secretismos que envolvem os corredores do Vaticano, são um manancial para este subgénero literário. Na verdade, as obras que envolvem os segredos da Igreja Católica são tantas e têm tantos leitores que representam uma importante especialização dentro dos géneros da aventura, do romance histórico e do horror, pois combinam habilmente elementos de todos estes géneros. Entre os autores do género que têm vendido milhões de exemplares dos seus livros, posso citar nomes como Umberto Eco, Steve Berry, James Rollins, Daniel Silva ou Dan Brown, para além dos portugueses Luís Miguel Rocha, Nuno Nepomuceno e agora Rui Miguel Pinto.

“O Segredo Tomar” é a estreia literária de Rui Miguel Pinto, um confesso admirador de Luís Miguel Rocha que, infelizmente, tão prematuramente nos foi levado.  Eu, que sou também um admirador da sua obra, não tenho dúvidas em afirmar que acabamos de encontrar o seu perfeito continuador.

A trama do romance centra-se na cidade de Tomar, uma localidade rica em história e tradição, e foi a sede dos Templários em Portugal, mas ramifica-se a outros locais, tanto em Portugal, como em França, onde a Ordem foi criada por Hugue de Payns (ou Hugues de Payens). O autor construiu um enredo profundo que mistura factos históricos, teorias da conspiração e uma dose equilibrada de ficção.

Rui Miguel Pinto explora os mistérios que envolvem o passado da Ordem dos Templários em Tomar. A escrita é fluida e rica em detalhes; consegue transportar-nos para a atmosfera da cidade, as suas ruas e os seus monumentos, onde cada pedra parece guardar um segredo ancestral. A narrativa está cheia de reviravoltas e de momentos de tensão, mantendo o leitor constantemente curioso e agarrado à leitura.

Nota-se que o autor fez uma pesquisa histórica profunda, pelo que o livro é para o leitor não apenas uma obra de ficção, mas também uma fonte de informação sobre a ligação de Tomar à Ordem dos Templários, bem como da génese, desenvolvimento e queda da Ordem na Idade Média, da sua criação e reais objetivos dos seus fundadores.

Outro elemento que ajuda a prender a atenção dos leitores são as histórias familiares que envolvem os personagens do romance. São histórias muito realistas e bem construídas. Os personagens de "O Segredo de Tomar", incluindo os vilões, estão cuidadosamente delineados, incluindo as suas motivações e os conflitos que os interligam na trama. Mostra como os vilões também são humanos e falíveis, acabando por ser vítimas do peso do segredo que os leva a agir de determinado modo. O mesmo se pode dizer dos heróis, nomeadamente o protagonista Miguel, que é apresentado como um modelo para os jovens de hoje, responsável, bom aluno e dedicado à família. Tanto os mais novos como os leitores mais velhos, como eu, se conseguem facilmente identificar com as suas dúvidas, as suas angústias e a sua coragem e persistência, nunca desistindo de alcançar os seus objetivos.

Se quisermos aprofundar um pouco mais a análise, para além da história narrada no livro, podemos afirmar que aborda temas que preocupam genericamente a sociedade, como poder, fé, traição e redenção. Rui Miguel Pinto faz-nos refletir sobre as nossas escolhas e o impacto que elas terão no futuro e no nosso destino, individual e coletivo. Parece-me também que nos leva a refletir sobre as sociedades secretas, os seus modos de atuação, os meios que têm ao seus dispor e os perigos que, muitas vezes, podem representar, um problema evidente se pensarmos na facilidade e rapidez da difusão da informação, no papel das redes sociais e dos influenciadores bons e maus, honestos e desonestos.

"O Segredo de Tomar" é uma obra que recomendo para os amantes de história, de mistério e de terror. Rui Miguel Pinto conseguiu criar um livro para leitores de todas as idades, que entretém, mas também educa e nos faz refletir. É especialmente recomendado para quem gosta de thrillers religiosos repletos de emoção e intriga.

Se, para além disso, quer conhecer mais sobre os Templários e a sua ligação a Portugal e a Tomar, então este livro é para si.