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Os Meus Nobel

Aqui encontra informação sobre a vida e a obra de grandes escritores, galardoados com o Prémio Nobel de Literatura ou não, minhas recensões de livros, textos de minha autoria e notícias literárias

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O pastorinho de Natal

Vibarao, 05.12.22

Noite de estrelas.jpg

O seu avô era pastor. Saía de manhã com o rebanho das ovelhas, depois de serem ordenhadas e feitos os queijos, e voltava à tarde, para repetir o mesmo ritual. Trazia durante todo o ano um capote vestido e um guarda-chuva aberto. Do capote, dizia: “O que tapa o frio, tapa o calor”. Do guarda-chuva, dizia: “O que tapa a chuva, tapa o sol”. Na mão levava um bordão, com o qual guiava as ovelhas e no qual se apoiava nas longas horas de pastorícia, porque as forças já não eram muitas.

Joãozinho tinha pouco mais de dois anos de idade e gostava muito de ir com ele guardar as ovelhas. Às vezes, quando ia para perto, o avô levava-o, mas a sua mãe evitava deixá-lo ir, para não o incomodar, porque já não tinha saúde para tomar conta da criança e das ovelhas.

Certo dia em que não o deixou ir, quando a apanhou distraída, desatou a correr pelo caminho, a ver se ainda conseguia agarrar o avô. Correu, correu, até que se viu rodeado por silvas altas. Mas de ovelhas e avô nem sombra. Chamou, gritou, chorou, mas ninguém o ouvia.

Entretanto, a mãe deu pela sua falta. Ficou alarmada e pensou: “O grande malandro queria ir com o avô. Será que foi atrás das ovelhas?” Correu ao caminho por onde o rebanho tinha ido e logo viu as marcas de uns pezinhos de criança bem visíveis sobre as pegadas do gado. Seguiu a pista até que as pegadas pequeninas se desviaram para um campo. Não as conseguia ver na relva verde. Aflita gritou:

– Joãozinho! Joãozinho!"

Finalmente, ouviu um choro de criança e encontrou o filho no silvado, lavado em lágrimas.

–  Nunca tornes a fazer isto, meu filho, que me matas do coração! – e abraçou-o com ternura.

* * * * * * *

Joãozinho adorava o seu avô e podia ficar aqui toda a semana a contar as suas aventuras com ele e o seu rebanho de ovelhas!

Mas do que Joãozinho mais gostava era dormir com o avô na sua choça feita de ripas, colmo e giestas. Lembro-me de uma das raras noites em que a sua mãe o deixou ir. Não chovia, mas o frio era intenso. O céu estava coberto de milhões de pontos brilhantes, uns pequenos, outros maiores, como só a escuridão do campo deixa ver. Ao seu lado, as ovelhas dormiam no redil, com a cabeça colada à barriga, para se protegerem do frio. Joãozinho estava no colo do seu avô, à porta da choça, muito quentinho, embrulhado numa manta de lã. Ao lado deles, sentados sobre as patas traseiras, estavam os dois cães que acompanhavam o rebanho para todo o lado: um muito pequenino, treinado para virar o gado, e o outro muito grande, com uma coleira de pontas de ferro ao pescoço, treinado para defender o rebanho dos lobos e dos ladrões.

Subitamente, uma estrela cadente rasgou o céu e deixou um rasto de luz.

–  Avô, viu aquela estrela que passou por cima de nós? – gritou Joãozinho, cheio de entusiasmo.

–  Sabes, aquela estrela veio do céu para guiar os Reis Magos até à cabaninha onde está o Menino Jesus – respondeu o avô. – É que hoje é a noite de Natal.

 

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