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Os Meus Nobel

Aqui encontra informação sobre a vida e a obra de grandes escritores, galardoados com o Prémio Nobel de Literatura ou não, minhas recensões de livros, textos de minha autoria e notícias literárias

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O Deus das Moscas

Vibarao, 12.09.22

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Comentário ao livro “O DEUS DAS MOSCAS” de William Golding

William Golding participou na Segunda Guerra Mundial e o horror que viveu está refletido no seu trabalho literário, nomeadamente neste livro que começou a escrever a seguir à guerra, mas só conseguiu publicar em 1954, depois de ser rejeitado por várias editoras, sendo o seu romance de estreia.  Foi um sucesso de vendas imediato, tornou o seu autor conhecido na Inglaterra e internacionalmente, e é considerado a sua obra-prima.

Facilmente o leitor associa o título à ideia de desagregação social, pois as moscas aparecem na carne em decomposição, no lixo, na imundície, como se pode ler literalmente no livro. As personagens são crianças, mas crianças completamente opostas ao “bom selvagem” de Rousseau. Marcado pela guerra, Golding apresenta as suas personagens intrinsecamente más por natureza. Ele afirmou mais tarde que o ser humano faz o mal com a mesma naturalidade com que as abelhas fazem o mel, o que é significativo da sua forma de pensar. Para ele, a natureza é um ecossistema renovável, mas sob a ameaça constante do ser humano.

Cingindo-me um pouco mais a este livro, aponta para acontecimentos que decorreriam num futuro próximo e conta a história de um grupo de miúdos de várias idades, que foram evacuados de Inglaterra para serem libertados de uma guerra nuclear que tinha deflagrado na Europa. Mas o avião em que viajam despenha-se numa ilha de coral no meio do Pacífico e morrem todos os adultos. Embora apreensivos no início, os miúdos vivem felizes por não terem de suportar os deveres escolares, nem a supervisão dos adultos. Sozinhos da ilha, os garotos formam a sua própria sociedade, que começa por ser solidária e justa, mas se vai tornando gradualmente numa completa anarquia. Escolhem democraticamente um chefe, mas não tarda muito que se comece a formar um grupo de opositores, chefiados por um adolescente que se revela um perfeito déspota. As ordens para manter uma fogueira permanentemente acesa no ponto mais alto da ilha começam a ser descuidadas e progressivamente vai sendo implantado um reinado cruel e despótico, que lança o terror na comunidade e leva tudo a perder. E de nada adianta demonstrar que, sem a fogueira, nunca serão encontrados e será o seu fim, porque a maldade é muito mais atrativa do que a bondade e do que o esforço para o cumprimento do dever.

A ilha era habitada por porcos que as crianças aprenderam a caçar e assavam para a sua alimentação. O grupo dos caçadores era chefiado por aquele que veio a ser depois o ditador. O título do livro resulta de uma cabeça de porco espetada numa estaca que se tornou no totem do grupo revolucionário e foi apodrecendo e enchendo de moscas e vermes.

“O Deus das Moscas” foi lido por milhões de pessoas em todo o mundo e tem sido de leitura obrigatória em escolas, faculdades e universidades nos últimos cinquenta anos, incluindo em Portugal, onde faz parte do Plano Nacional de Leitura. Foi adaptado ao cinema por Peter Brook em 1963; há episódios e referências ao romance na música popular, em livros de outros autores, em programas de TV incluindo “The Walking Dead” e “Lost”, e em desenhos animados.

 

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