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Os Meus Nobel

Aqui encontra informação sobre a vida e a obra de grandes escritores, galardoados com o Prémio Nobel de Literatura ou não, minhas recensões de livros, textos de minha autoria e notícias literárias

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Justiça!

Vibarao, 16.09.22

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Comentário ao livro “JUSTIÇA!” de Wladyslaw Reymont

Ao que sei, este é o único livro de Wladislaw Reymont traduzido em Portugal, para além de um conto incluído numa antologia de contos polacos. E não é um dos seus livros mais famosos. Não se compreende que, por exemplo, “Chlopi” (que significa “Camponeses”), a sua obra-prima que lhe valeu o Prémio Nobel de Literatura, nunca tenha sido traduzido e publicado em Portugal, nem no Brasil. Também é difícil aceitar que “O Triunfo dos Porcos” de George Orwell seja tão lido em Portugal e o romance “Bunt” (A Revolta) de Reymont que o inspirou, seja desconhecido. Publicado cerca de quinze anos antes, é uma crítica ao regime comunista e descreve uma revolta de animais que tomam conta da sua quinta para introduzir a "igualdade", mas a revolta rapidamente degenera em abuso e terror sangrento, exatamente como no livro de Orwell.

Feito o desabafo, falemos de “Justiça!” Trata-se de um pequeno romance ambientado, como a generalidade da obra do autor, no campo, passando-se na aldeia de Prylenk, um pequeno aglomerado de cabanas com telhados de colmo, onde quem tinha uma simples courela já se considerava rico, pelo menos remediado. Como é habitual nestas aldeias, onde quase ninguém sabia ler, havia um pequeno núcleo que dominava e abusava dos crentes e inocentes habitantes. Neste caso, o intendente e o regedor seu lacaio, o secretário e o escrivão. Havia também um verdadeiro rico, um fidalgo que morava no seu castelo e era superior às guerrinhas dos funcionários da localidade e a única entidade que estes respeitavam.

Toda a trama gira à volta de João Winkorek, um jovem camponês que apanhou o intendente a tentar abusar da sua noiva. Lutaram e, como os poderosos ganham sempre, foi preso e condenado a três anos de cadeia. Mas consegue fugir e regressar à sua terra. Descoberto, tentam capturá-lo e fica gravemente ferido, tendo-se refugiado em casa da sua mãe. O intendente promete uma elevada quantia a quem o denuncie, o que faz os pobres moradores oscilar entre o sentimento de fazer justiça e a tentação do dinheiro. A mãe faz tudo para o ajudar a fugir para o estrangeiro, nomeadamente desfazendo-se de todos os seus bens para conseguir pagar aos contrabandistas. Mas não é fácil lutar contra os poderosos e, à última hora, o plano vai falhar.

Por trás da história pessoal desta família, está a situação da Polónia naquele final do século XIX. O povo maioritariamente agrícola vivia muito mal, a pobreza era enorme, a corrupção campeava e a população estava a emigrar clandestinamente, especialmente para a Prússia e para o Brasil, considerado o Eldorado, que se dizia ser uma terra de fartura, onde eram oferecidos terrenos a toda a gente e se enriquecia em pouco tempo. Não só este livro, mas toda a obra de Reymont é uma denúncia da exploração destes camponeses empobrecidos, espalhados pelas planícies sem fim da Polónia, pelos pântanos insalubres e as florestas imensas, vítimas da prepotência de uma administração pública corrupta que distorcia a justiça a seu favor.

Para terminar, só uma breve referência à edição portuguesa que é da Editorial Inquérito e foi publicada em 1942, não tendo, ao que julgo, voltado a ter novas edições, pelo que é muito difícil aceder a um exemplar. Quanto ao “Chlopi”, a sua obra-prima, pode encontrar-se em pdf, ebook e até audiobook, especialmente na edição inglesa, com o título “The Peasants”. Pode também ser visionada a sua adaptação ao cinema.

 

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