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Os Meus Nobel

Aqui encontra informação sobre a vida e a obra de grandes escritores, galardoados com o Prémio Nobel de Literatura ou não, minhas recensões de livros, textos de minha autoria e notícias literárias

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DOIS PESOS E DUAS MEDIDAS - Parábolas do nosso tempo (4)

Vibarao, 18.07.24

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Naquele tempo…

Não terás no teu saco dois pesos desiguais, um grande e um pequeno. Não terás em tua casa duas medidas desiguais, uma grande e uma pequena. Só possuirás pesos exatos e leais, medidas exatas e leais, para que os teus dias se prolonguem na terra que o Senhor, teu Deus, te der. Porque o Senhor, teu Deus, abomina todos os que procedem mal e praticam uma ação desleal. (Dt. 25,13-16)

No nosso tempo…

Naquele ano, o inverno foi invulgarmente quente. Os mosquitos desenvolveram-se muito mais do que o costume e começaram a tornar-se uma praga. A determinada altura, as pessoas começaram a aparecer nos serviços de urgência queixando-se de horrível comichão. Algumas manifestavam fortes sintomas de alergia, como vermelhidão na pele, inchaços e falta de ar. Os médicos examinaram os pacientes, fizeram exames laboratoriais e concluíram que se tratava de reação à picada dos mosquitos. Receitaram anti-histamínicos e recomendaram que se lavassem bem as zonas afetadas com água e sabão, de preferência hipoalergénico, e enviaram os doentes para casa, afirmando que os sintomas iriam passar dentro de três ou quatro dias.

Sucede que a quantidade de doentes com estes sintomas começou a crescer rapidamente e os médicos começaram a suspeitar de uma epidemia. Entretanto, os doentes não melhoravam, antes pelo contrário, e muitos tiveram de ser internados, alguns deles acabando por falecer com graves problemas pulmonares. Como mandam as regras, o Ministério da Saúde foi alertado e, perante o aumento da epidemia, começaram a ser tomadas medidas. Os Serviços de Proteção Civil faziam a desinfestação das ruas, sarjetas, fossas, ribeiros e todos os locais onde os mosquitos se multiplicavam. As famílias foram aconselhadas a fechar as portas e janelas durante o dia, especialmente durante a manhã, mas nada resultava e os doentes eram cada vez mais.

Acabou por ser declarado o Estado de Emergência com medidas extremamente rigorosas, entre as quais o encerramento de escolas e estabelecimentos comerciais não essenciais. Os cidadãos foram confinados nas suas residências; só se podia ir à rua para aquisição de alimentos e medicamentos. Foi proibido sair durante o dia, pelo que farmácias e supermercados só estavam abertos durante a noite. Para que as empresas forçadas a fechar não falissem, foi permitido o despedimento de trabalhadores e a redução de vencimentos aos restantes.

No entanto, as medidas tomadas demoraram a produzir efeitos. Os mosquitos continuavam a ser cada vez mais e foi decretada a obrigatoriedade de utilizar fora de casa repelente e vestuário de proteção contra insetos. Rapidamente se esgotou o stock de fatos de apicultor e muitas empresas de confeção tiveram de se reconverter para passar a produzir este tipo de vestuário. No entanto, foram milhares os infetados e houve largas centenas de mortos, pelo que as medidas adotadas tiveram de ir sendo sucessivamente prorrogadas. O povo começou a ficar cansado e vários cidadãos foram presos por tentarem furar as regras da quarentena.

Entretanto, os governantes precisavam de mostrar ao povo a sua capacidade para enfrentar a situação. Era vital para os partidos da área da governação mostrar trabalho, para manter elevada a sua base de apoio popular. Para tal, decidiram criar subsídios às famílias e empresas, as primeiras para que não morressem à fome e as segundas para que não morressem por falta de produção. Decidiram também fazer exceções às regras de confinamento, para poderem ser realizadas algumas festas que eram habituais, entre as quais a celebração do Dia do Trabalhador, fundamental para os seus apoiantes.

Apesar das cautelas com que foram feitas essas festas, o povo revoltou-se por não concordar com o facto de não poderem fazer as suas celebrações, como festas de aniversário, cerimónias religiosas, batizados, casamentos e funerais, feiras e romarias, enquanto os políticos, bem como os partidos e sindicatos seus apoiantes faziam os seus festejos.

Os governantes foram acusados pela oposição de usar dois pesos e duas medidas. As redes sociais estavam ao rubro. E, como o povo é sereno, mas abomina os que abusam da sua confiança, a gestão destes governantes injustos foi censurada nas eleições seguintes. A igualdade de pesos e medidas para todos foi reposta pelos novos detentores do poder.

 

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