A Ascensão de Joaninha
Comentário ao livro “A ASCENSÃO DE JOANINHA” de Gerhart Hauptmann
Esta é uma das mais importantes peças de teatro de Gerhart Haupmtmann, um dos fundadores do naturalismo a par com Émile Zola e Lev Tolstoy que, ainda hoje, é considerado um dos mais importantes dramaturgos alemães.
A história passa-se num asilo que recolhe pobres e sem abrigo. A peça começa com quatro asilados em palco, o que nos dá logo uma imagem do papel que a instituição desempenha no auxílio às pessoas miseráveis que ali se acolhem: pedintes, bêbedos, ladrões, deficientes, prostitutas. Mas logo chega Gottwald, o professor, com uma jovem desmaiada nos braços. Pelo diálogo, ficamos a saber que Hannele (Joaninha na versão portuguesa) é uma menina órfã de mãe, maltratada e abusada pelo padrasto que a obriga a mendigar para conseguir dinheiro para as suas bebedeiras. Foi encontrada por um lenhador, quase afogada num lago gelado e tão maltratada que vai mesmo morrer, apesar da assistência que lhe é prestada.
Os dois atos são quase integralmente preenchidos com o delírio de Joaninha que sonha que Jesus a vem buscar e levar para o Céu, para junto da sua falecida mãe. No seu delírio, vê o padrasto durante breves momentos, que a aterroriza e ameaça; depois aparece o anjo negro da Morte com uma grande espada que cumpre a sua missão e desaparece sem dizer palavra; na freira-enfermeira que a assiste, Joaninha julga ver a sua falecida mãe que a conforta e acompanha nos derradeiros momentos; é então que aparece um grande grupo de anjos vestidos de branco que a vai acompanhar na sua ascensão ao Céu, amparada pela mãe até ao último momento.
"A Ascensão de Joaninha" é uma peça com uma história triste, mas também redentora, que mostra como o sofrimento pode ser sublimado, como os oprimidos serão consolados e os opressores castigados, como acontece ao padrasto de Joaninha que é preso. Faz um apelo ao sobrenatural, uma constante nas obras do autor. Embora confrangedora, é uma história romântica que puxa uma lagrimazinha, mas consola o coração do leitor (ou espetador). É considerada a primeira peça no mundo com uma heroína infantil, pois Joaninha tem cerca de catorze anos.
Curiosidade: O meu vídeo sobre o autor e a sua obra foi gravado no dia 16 de abril de 2022, por coincidência no dia seguinte ao falecimento da grande atriz Eunice Muñoz que, em 1944, era uma adolescente de 14 ou 15 anos e fazia o papel de primeiro dos três anjos que recitavam duas pequenas quadras cada um deles, no final do 1º ato, na estreia da peça em Portugal. Foi um dos primeiros papeis que desempenhou na sua longa e gloriosa carreira.
Outra curiosidade: Esta peça foi gravada a preto e branco pela RTP com realização de Nuno Fradique e exibida em 1964, com Maria Armanda no papel de Joaninha. O vídeo encontra-se nos arquivos da televisão pública e pode ser visto neste link: A Ascensão de Joaninha – Parte I – RTP Arquivos.
Uma nota, para terminar: A 1ª edição portuguesa foi da Papelaria Fernandes que a editou em 1944, por ocasião da estreia da peça no Teatro Nacional. A edição que possuo é a 2ª e foi editada pela Livraria Almedina em 1967. Ambas são edições bilingues (português e alemão) e têm tradução do Prof. Paulo Quintela.