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Os Meus Nobel

Aqui encontra informação sobre a vida e a obra de grandes escritores, galardoados com o Prémio Nobel de Literatura ou não, minhas recensões de livros, textos de minha autoria e notícias literárias

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1984

Vibarao, 07.02.23

 

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Comentário ao livro “1984” de George Orwell

Este romance, considerado a obra-prima de George Orwell, é um dos livros mais famosos de todos os tempos. Futurista na altura em que foi escrito, já é passado para nós, mas continua sempre atual  e a ser um alerta que nunca é demais relembrar.

Escrito após o fim da Segunda Guerra Mundial, no fim da qual o mundo ficou dividido em grandes blocos repartidos pelos vencedores, foi publicado em 1949, quando estava a começar a Guerra Fria e as disputas políticas e ideológicas entre blocos e dentro de cada bloco.

O enredo apresenta o conceito de guerra permanente como uma forma de justificar a manutenção do regime com as classes mais baixas dominadas pelos mesmos de sempre, que se eternizam no poder. Paralelamente, deixa uma visão bastante negativa da evolução da tecnologia e da forma como esta pode ser aproveitada pelo regime na vigilância dos cidadãos e garantir uma paz podre através da repressão, impedindo o nascimento e a proliferação de novas ideias.

A narrativa passa-se em Londres, no ano de 1984, ou seja, cerca de 40 anos após a escrita do romance. O mundo está dividido em três grandes blocos, a Oceânia, a Eurásia e a Lestásia, que vivem em guerra permanente. As ilhas britânicas pertencem à Oceânia, liderada pelos Estados Unidos da América. As alianças mudam inesperadamente, pelo que a população nunca sabe quem é o inimigo do momento. Assim, pode cair um míssil inimigo a todo o momento e provocar grande destruição e mortos na cidade, sem se saber exatamente de onde vem.

A sociedade é formada por três classes. Ao Partido Interno pertencem os altos quadros do regime que têm todas as regalias. Ao Partido Externo pertencem os burocratas do regime, que são os perigosos, porque são cultos e detêm muita informação sensível, pelo que são permanentemente controlados para impedir desvios ideológicos. Os proles são a grande maioria da população, vivem na ignorância, na pobreza extrema, nunca tiveram regalias, mas também não sentem a sua falta; o Partido limita-se a criar romances lamechas, filmes pornográficos e música para os divertir e manter ocupados e satisfeitos.

No topo do regime está o Grande Irmão, o ditador e líder supremo do Partido. Nunca é visto pessoalmente e poderá nem existir fisicamente.  Há enormes pósteres com a efígie do Grande Irmão espalhados por toda a parte, com a legenda “O Grande Irmão está a ver-te”. Existem telecrãs em todas as habitações, lugares públicos e locais de trabalho, com função de captar e emitir, que monitorizam continuamente a população e são os veículos de transmissão das ordens do Grande Irmão e da propaganda do regime. Está a ser criada a “Novilíngua” que tem muito poucas palavras, vai extinguir todas as línguas existentes e é mais um instrumento de controlo do pensamento.

Não existem leis e as ordens do Grande Irmão são a lei de cada momento. Se alguma ordem contradisser as anteriores, essas nunca existiram. A organização administrativa do estado é constituída por quatro ministérios: o Ministério da Paz que trata dos assuntos da guerra; o Ministério da Verdade que trata da produção das mentiras que permitem o Grande Irmão ser infalível; o Ministério do Amor que trata do controle das pessoas através da Polícia do Pensamento, que faz a vigilância, a tortura e a destruição dos presumíveis dissidentes; e o Ministério da Riqueza que trata da fome, distribuindo os parcos alimentos disponíveis.

Os três slogans do Partido são bem elucidativos: “Guerra é paz”, “Liberdade é escravidão” e “Ignorância é força”. Se quer viver em paz mantenha-se na ignorância, pois quanto mais souber mais riscos corre de perder a liberdade, ser torturado e a sua vida passar a ser um inferno.

Todos os dias os cidadãos interrompem o trabalho nos Dois Minutos do Ódio, durante os quais os telecrãs incentivam ao ódio à “Fraternidade”, uma organização clandestina que está ao serviço do inimigo e tenta recrutar adeptos. Todos têm de se manifestar ruidosamente contra ela, para não serem considerados traidores. No final do livro, a “Fraternidade” vai ser uma grande surpresa para o leitor.

É esta a sociedade onde vive Winston Smith, o protagonista, que trabalha no Ministério da Verdade e se dedica a reescrever os jornais antigos, para estarem sempre de acordo com as afirmações do Grande Irmão. Anda na casa dos 40 anos, nasceu em finais da Segunda Guerra Mundial, tem leves reminiscências da sociedade daquele tempo e tem alguma dificuldade em aceitar as “verdades” oficiais do regime. Conhece Julia, uma mulher jovem e bem humorada que trabalha no departamento que produz os divertimentos para os proles e começa a brotar o amor entre eles. É proibido amar e os homens e as mulheres só se podem unir para gerar crianças que o regime se encarregará de educar. Depois de um breve período de felicidade clandestina, Winston e Julia são desmascarados e presos, sendo submetidos às mais horríveis torturas físicas e psicológicas. Smith declara-se convertido e passa a ser um cidadão exemplar.

O romance é uma crítica poderosa ao poder de manipulação que um sistema pode exercer sobre os seus cidadãos e uma denúncia dos métodos que utiliza para o conseguir. Descreve a existência sufocante das populações que vivem sob sistemas ditatoriais, onde o governo, para poder controlar os cidadãos, precisa de padronizar as suas vidas e os seus comportamentos. A democracia tem os seus defeitos, mas devemos estar alerta e saber exercer os nossos direitos, nomeadamente votar em consciência sem imposições e manifestar sem medo as nossas ideias. Se a leitura deste livro puder ajudar o leitor nesta matéria, a sua leitura já valeu a pena.

 

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